Travessia Lapinha x Tabuleiro
Cordilheira do Espinhaço, MG
3 dias - jul/2017

Resumo da excursão

Rumo ao Pico da Lapinha, Lapinha da Serra ao fundo
Rumo ao Pico da Lapinha, Lapinha da Serra ao fundo

Realizamos a travessia Lapinha x Tabuleiro nos dias 15, 16 e 17/07 de 2017. Foi uma ótima oportunidade de caminhar com minha namorada e quatro amigos com quem eu não viajava há algum tempo. Coincidentemente, todos estavam realizando o trajeto pela primeira vez. Partimos na sexta-feira à noite da rodoviária do Rio e chegamos em Belo Horizonte às 6:00 do sábado. Contratamos uma van que nos conduziu até Lapinha da Serra, após uma parada para o café da manhã em Lagoa Santa.

Começamos a caminhada às 11:00. Nosso primeiro dia foi de tempo encoberto, com chuva fina em vários momentos, temperatura em torno dos 15oC. Por sorte, conseguimos visual parcial em vários pontos muito bonitos. Alcançamos o cume do Pico da Lapinha às 14:10. Chegamos na base do Pico do Breu às 16:10. Sem nenhuma visibilidade e com horário avançado, decidimos partir direto para a Prainha, sem passar pelo cume do Breu. Chegamos lá às 18:05, onde montamos acampamento para passar a primeira noite. Pouco depois das 20 horas, entramos para as barracas para dormir. A temperatura era de 8oC.

Mirante no topo da Cachoeira
Mirante no topo da Cachoeira

No domingo retomamos a caminhada às 7:10. O tempo amanheceu semelhante ao dia anterior. Muitas nuvens baixas, visibilidade reduzida, 12oC de temperatura. Seguimos até a casa do seu Sr. Zé e Dona Maria, chegando lá às 11:10. Deixamos nosso equipamento pesado, preparamos nossas mochilas de ataque e às 11:45 partimos para a visita à Cachoeira do Tabuleiro por cima. Chegamos no primeiro mirante às 13:10. Felizmente, as nuvens baixas não atrapalhavam mais a visibilidade e pudemos gastar 40 minutos ali contemplando a queda d'água no paredão do canyon. Depois, fomos explorar o leito do rio. Alcançamos o ponto de derramamento da água às 15:00 e, em seguida, retornamos pela mesma trilha para a casa da Dona Maria. Chegamos de volta na casa às 17:20.

Na segunda-feira sabíamos que seria nosso dia mais tranquilo. Já tínhamos a informação de que a trilha para a visita à Cachoeira por baixo estava interditada, então nossa meta era apenas chegar até a portaria do Parque e embarcar na van para retornar à rodoviária. Tomamos café da manhã na casa e partimos para a trilha com tranquilidade às 10:15. O tempo estava mais aberto e mais quente que os dias anteriores. Cerca de 1 Km antes de alcançarmos a portaria, chegamos num belíssimo mirante de frente para a cachoeira. Apesar do volume d'água não estar muito grande, certamente esta é uma das cachoeiras mais bonitas do Brasil. Prosseguimos a trilha enquanto o belíssimo visual da cachoeira permanecia à nossa direita, inspirando nossa caminhadas.

Mirante à caminho da sede do Parque
Mirante à caminho da sede do Parque

Chegamos na portaria do parque às 12:10. Nossa van estava agendada para às 13:00. Porém, não tínhamos nem tirado as mochilas das costas, a van já estava encostando no estacionamento. Apesar disso, adiamos um pouco a partida para tomar um banho na sede do parque. O banheiro estava bem conservado, inclusive com chuveiro elétrico funcionando para o banho. Às 13:00 estávamos deixando a sede. Paramos na própria cidade de Tabuleiro para o almoço, que deve ter durado cerca de 1 hora. Continuamos viagem e passamos por Conceição do Mato Dentro às 14:50. Às 16:00 estávamos passando pela cidade de Serrá do Cipó.

Chegando na sede do Parque de Tabuleiro
Chegando na sede do Parque de Tabuleiro

Não recordo do horário exato de chegada na rodoviária, mas devido ao trânsito pesado em Belo Horizonte, com certeza demoramos mais tempo do que as 4 horas previstas inicialmente e, ao mesmo tempo, chegamos cedo demais para o embarque para o Rio, marcado apenas para as 23:30. Tentamos adiantar nossas passagens, mas não havia nenhuma opção de partida mais cedo. A rodoviária de BH é super desconfortável, as opções de alimentação são péssimas e as cercanias horrorosas. Nossas últimas horas em Belo Horizonte pareceram demorar dias para passar. Com certeza esta logística precisará ser melhorada em outra visita.

Gostei muito de conhecer a região, e penso em retornar para repetir o percurso futuramente. Ficou pendente a visita ao cume do Breu e ao poço da cachoeira. Quem sabe da próxima vez a visitação ao poço já esteja liberada e consigamos dias com melhor visibilidade. Agradeço muito aos amigos Alexandre Ciancio e Willians Silva que colaboraram com várias informações para o planejamento desta viagem. A seguir, tentei reunir as principais dicas para esta travessia:

Roteiro

  • Existem basicamente duas formas de executar a travessia: passando pela Serra do Breu, ou contornando a Serra do Breu. A primeira forma é a mais longa e possui maior desnível a ser vencido. Em compensação, oferece a possibilidade de visitação ao Pico da Lapinha e ao cume da Serra do Breu, lugares com belíssimo visual da região. Por este motivo, esta foi nossa opção. Seja qual for o trajeto, as duas trilhas acabam se encontrando no Rio Parauninha, e dali seguem juntas até Tabuleiro.
  • Para executar o trajeto escolhido, foi necessário pagar R$ 35 por pessoa. Parte do percurso é realizada dentro de uma propriedade privada. A cobrança é realizada numa cancela bem no início da trilha, assim que partimos de Lapinha da Serra. Foi necessário assinar um termo de responsabilidade e não foi exigida a participação de um guia local.
Pico da Lapinha
Pico da Lapinha
  • Para chegar ao Pico da Lapinha é preciso fazer um pequeno desvio da trilha principal. Tomamos uma bifurcação à direita que segue por 400 metros até chegar a base do Pico e depois sobe 100 metros de desnível até o cume. Ida e volta, a visita aumenta 1,5 Km a caminhada, mas vale muito a pena. Deixamos nossas cargueiras encostas em algumas pedras ao sair da trilha principal, já que voltaríamos pelo mesmo caminho.
  • Ao chegar bem na base do Breu, existem duas alternativas de caminho. Recomendo a opção que passa pelo cume do Breu. Explico mais à frente, quando falar sobre a orientação na trilha.
Rumo à Dona Maria
Rumo à Dona Maria
  • A travessia Lapinha x Tabuleiro permite a visitação da Cachoeira do Tabuleiro por cima e por baixo. Porém, nenhuma destas visitas faz parte, de fato, da trilha que liga Lapinha da Serra à cidade de Tabuleiro. A visitação por cima é feita por uma trilha secundária, de "bate e volta" que se inicia na casa do Sr. Zé e Dona Maria. A visitação por baixo é feita por uma trilha, também "bate e volta" que se inicia na portaria do Parque Natural Municipal do Tabuleiro.
  • Durante nossa visita, o acesso à Cachoeira do Tabuleiro por baixo estava interditado pelo Parque. Segundo as informações que coletamos na administração, desde o início do ano está sendo feito um manejo da trilha, a qual estava extremamente deteriorada pela grande quantidade de visitantes. A previsão para reabertura é o final de 2017.
  • Para a visitação da Cachoeira por cima, caminha-se 4,7 Km a partir da casa da Dona Maria. Então, chega-se a um ponto onde há uma placa e uma bifurcação. Esta bifurcação permite a visitação da cachoeira de duas formas: à distância, ou a partir do ponto da queda d'água.
Caminhando rumo à queda d'água
Caminhando rumo à queda d'água
  • Tomando à esquerda na bifurcação, e caminhando por mais 400 metros, alcançamos a beira do canyon. Neste ponto, é possível avistar o fundo do vale e, do outro lado do canyon, ao longe, a água despencando do topo do cachoeira.
  • Retornando para a bifurcação e tomando a direita, entramos numa trilha que segue para a cidade de Tabuleiro pelo leste. Antes porém, esta trilha cruza o leito o rio que forma a Cachoeira do Tabuleiro. Saindo desta trilha e entrando à esquerda bem no leito do rio, é possível caminhar por suas margens até o ponto extremo de onde a água despenca mais de 270 metros até a base da Cachoeira.
Visual a partir da queda d'água
Visual a partir da queda d'água

É necessário muito cuidado nesta parte. Primeiramente porque o rio corre por dentro de um canyon estreito, sujeito à cheias repentinas. Depois, porque o deslocamento é todo realizado sobre lajes de pedra úmida. Para o acesso ao ponto extremo, deve-se cruzar o rio para a margem esquerda e atravessar uma passagem com um teto de pedra bem baixo. Imediatamente depois, é necessário desescalar um lance de cerca de 2,5 metros de altura para chegar no platô final. O lance não é complexo, mas obviamente exige atenção devido à sua localização delicada. A Cachoeira estava com pouca água durante nossa visita. Certamente com um fluxo mais intenso esta visita seria totalmente desaconselhável.

Sinalização e orientação

Estaca de sinalização
Estaca de sinalização
Na aproximação para o Pico do Breu
Na aproximação para o Pico do Breu
  • Existem totens de pedras e estacas de madeira demarcando boa parte do percurso. Apesar disso, a sinalização não é da melhor qualidade e não está presente em todos os trechos. Existem bifurcações por todos os lados, muitas trilhas de gado e trilhas de acessos a propriedades. Mesmo com mapas e GPS, tomamos o caminho errado mais de uma vez.
  • O trecho mais difícil no quesito orientação foi a descida do Breu. A aproximação para o Morro do Breu ocorre de forma gradativa, até chegar num ponto onde fica claro que será necessário vencer um aclive um pouco mais acentuado para finalmente alcançar o seu cume. Neste momento, há opção de tomar a direita, evitando o cume e começando a descida em direção ao Rio Parauninha, ou passar pelo cume e fazer a descida pelo outro lado. A maioria dos tracklogs que estudamos faz a primeira opção, que imagino ser aquela com a orientação mais fácil, além do visual mais interessante.

Entretanto, quando chegamos no ponto de decisão, o tempo estava totalmente fechado e já estava ficando tarde. Optamos por não passar pelo cume e antecipar a descida rumo à Prainha. Tomamos a trilha à direita, inicialmente sinalizada por estacas. A partir de determinado momento, as estacas sumiram, tal como a trilha. Percorremos uma grande extensão sem nenhuma trilha, traçando nossa própria rota até chegar no destino. Gastamos bastante tempo tentando descobrir o melhor caminho para vencer o terreno e acabamos chegando já à noite no acampamento.

Acampamentos

Prainha no Rio Parauinha
Prainha no Rio Parauinha
  • Nosso primeiro pernoite foi planejado para acontecer em acampamento selvagem, num ponto conhecido como Prainha, um banco de areia formado nas margens do Rio Parauninha. O ponto é bom para o acampamento, mas quando chegamos ao local nos deparamos com um placa bem grande informando se tratar de uma propriedade privada, com acampamento proibido. Já estava escuro e o grupo cansado. Tivemos que manter o plano original e dormimos ali. Para as próximas excursões, planejaremos o pernoite em outro ponto.
  • Saindo da Prainha, caminha-se 900 metros até uma bifurcação à direita. Nós seguimos em frente, rumo ao Pico do Breu. Porém, tomando esta bifurcação e caminhando por mais 1 Km, chega-se à casa da falecida Dona Ana Benta. Atualmente, a casa é mantida pelo seu sobrinho, o Lucas. Não conseguimos contato por telefone com o Lucas e não tínhamos informações sobre as chances de encontrá-lo no local. Por isso, havíamos planejado ficar na Prainha. Porém, conversando com outros caminhantes que conhecemos durante a viagem, descobrimos que o Lucas gentilmente sede o espaço em torno da casa para acampamento, mesmo quando ele não está presente. Inclusive as instalações de banheiro e torneiras poderiam ser usadas sem problema. Para tentar contato com o Lucas, achei os seguintes telefones na Internet: (31) 9120-0991 e (31) 9525-3252.
  • Saindo da casa da Dona Ana Benta, não é necessário retornar pela trilha de chegada. Esta mesma trilha prossegue paralela a trilha principal e se encontra com ela mais à frente.
Casa da Dona Maria
Casa da Dona Maria
  • Nossa segunda noite e última noite foi passada na casa da Dona Maria e Sr. Zé de Olinda. Foi uma honra conhecer o casal que, há anos, recebe com muita hospitalidade os viajantes na sua residência. Pagamos R$ 50 por pessoa para ter direito ao pernoite, jantar, banho quente e café da manhã. O jantar é preparado no forno à lenha, o mesmo que aquece a serpentina para a água do chuveiro. Há amplo espaço para barracas, em duas áreas de acampamento próximas à casa. Quem preferir, pode pagar apenas R$ 15 pelo acampamento. A casa dos senhores é muito antiga e simples. Porém, bem ao lado, estão erguendo uma construção nova, para receber os visitantes que procuram mais conforto. As obras já estavam bem avançadas, mas ainda não havia data prevista para inauguração. Para falar com o casal, usamos o telefone (31) 99652-9156.
Banheiro "categoria luxo" do abrigo
Banheiro "categoria luxo" do abrigo
  • Ainda no primeiro dia de caminhada, ao nos aproximarmos do Pico da Lapinha, nos deparamos com um abrigo de montanha bastante curioso. Ele fica bem de frente para o Pico, parece ser novo ou recentemente reformado. Ele estava trancado e ninguém estava no local. O aspecto externo muito bom. Nos fundos, dois banheiros, um masculino e outro feminino. O masculino estava aberto, em perfeito estado, inclusive com sabonete líquido! Não achei a localização muito interessante para o roteiro que estávamos fazendo, já que ele fica relativamente muito próximo ao início da caminhada. De qualquer forma, ficamos intrigados com o local. Quem tiver mais detalhes sobre o funcionamento, por favor, deixe um comentário!

Transporte

  • A cidade de partida para o início da travessia é a minúscula Lapinha da Serra, distante 140 Km de Belo Horizonte. A cidade com mais estrutura nas vizinhas é Santana do Riacho.
  • A travessia termina na cidade de Tabuleiro, também muito pequena, distante 185 Km de Belo Horizonte. A cidade mais estruturada nas proximidades é Conceição do Mato Dentro.
  • Inicialmente, tentamos planejar o transporte apenas com ônibus, partindo do Rio de Janeiro. A viagem precisaria ser dividida em três trechos: Rio de Janeiro -> Belo Horizonte (Empresa Cometa, R$ 74,90), Belo Horizonte -> Santana do Riacho (Empresa Saritur, R$ 35,95) e, finalmente, Santana do Riacho -> Belo Horizonte (Empresa Saritur, R$ 32,45). Fora o transtorno de pegar 3 ônibus diferentes, os horários de partida e chegadas não eram compatíveis e, por isso, essa opção foi descartada.
  • Decidimos viajar de ônibus para Belo Horizonte e contratar um serviço de van para nos conduzir da rodoviária até Lapinha da Serra, e depois nos buscar em Tabuleiro trazendo de volta para a rodoviária. Fizemos cotação com três empresas/pessoas diferentes e escolhemos aquela que ofereceu o melhor valor: R$ 1.150 para o grupo de 6 pessoas. Fomos muito bem atendidos pelo Paulo, que nos recebeu com total pontualidade e uma ótima van. Os contatos são: (31) 98565-4470 / (31) 99795 1056 / adriaturismo@hotmail.com.
  • Nosso ônibus partiu da Rodoviária Novo Rio, no Rio de Janeiro às 23:30 da sexta-feira, e chegou às 06:00 do sábado em Belo Horizonte, cumprindo rigorosamente os horários prometidos. A volta foi realizada na segunda-feira a partir de Belo Horizonte às 23:30 com chegada no Rio às 06:10. A viagem da rodoviária de BH para Lapinha da Serra dura cerca de 3,5 horas e o retorno a partir de Tabuleiro, aproximadamente 4 horas.
  • A viagem de ônibus do Rio para Belo Horizonte é bastante cansativa. Pior ainda é ter que encarar em seguida mais 3,5 horas de van, para então começar a caminhada. Esta viagem foi programada sem muita antecedência, então os preços de avião não estavam muito atraentes. Em uma próxima oportunidade, pretendo voar do Rio para Belo Horizonte e vice-versa. O aeroporto de Confins é o melhor destino. Para maior comodidade, o ideal seria se hospedar na cidade de Lagoa Santa no dia anterior à caminhada, e seguir para o Lapinha da Serra no dia seguinte pela manhã.

Download

  • Faça download aqui do tracklog gravado durante a caminhada.
  • Faça download aqui do tracklog de referência que foi utilizado durante a caminhada. Este tracklog foi criado compondo diversos tracklogs obtidos, em especial, do Wikiloc.
Por: Ângelo Vimeney
Publicado em: 10/09/2017

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